Aquela carta que nunca vou te enviar...

Foi legal ter alguém como você. Exatamente como você.

Poder sentar-se à mesa de um bar, falar sobre a vida sem filtro. Trocar ideias, histórias e experiências. Falar de sonhos, desejos, futuro. Tudo isso com olhar atento e cuidadoso. Será que foi aí que me iludi?

Se sentir segura hoje em dia é coisa rara. E apesar de tudo, era o que eu pensava quando estava com você – lugar seguro. Posso dizer o que eu quiser, sem julgamentos, sem medo. Será que foi aí que eu errei?

E mesmo depois de trocar no campo das ideias, na hora de falar com o corpo era sempre intenso. Bom, interessante, vivaz. O desejo sempre esteve presente, mesmo depois das descobertas mais malucas. E era quente. Gostoso. A gente brincava de se satisfazer. Foi aí que eu me perdi.

Achei que fosse diferente. Achei que eu poderia confiar no que eu sentia, no que meus olhos viam quando cruzavam os seus. Mas ao invés de rio, era garrafa de água do lado da cama.

Fazer carinho na barba e seguir a linha das suas marcas. Desenhos infinitos que eu tentei decorar e gravar – no fundo, eu sabia que seria passageiro e, por isso, colecionava essas imagens na mente e no coração. Sempre te disse: a vida é curta e passa rápido demais. E não porque eu achava que iria morrer, como você disse em tom de brincadeira, mas porque o que a gente junto tinha data pra acabar. Eu sabia. Você sabia. A gente podia ter aproveitado mais.

E aquela história de se enfiar no meio do mato? A gente faz o que com ela agora? A ida pra praia, e “do nada”?

A maior frustração é ter sonhado sozinha. Ter, de novo, vivido um romance só pra mim. É encarar convite de sexo como convite pra vida. Quando é que eu vou aprender que nem todo mundo encara a energia vital como algo rico e valioso?

Espero lembrar disso da próxima vez que uma foto de cerveja aparecer no meu celular. Nem um convite direito foi. Só uma foto.

Como eu enchi de sentido algo que sempre foi tão vazio? Eu devia ganhar um prêmio por isso. Essa habilidade de sempre ver além do que pode ser. Mas daí seria errado também – vejo o que não é fato, o que não existe.

Pra mim é sempre banquete, mesmo que seja um hot-dog. É sempre muito, ainda que seja só fim de baile. Mas tem algo de significativo na última dança, não tem? É como um fim anunciado, sempre esperando o próximo baile começar. E aguardando pacientemente até que chegue a última dança, a última oportunidade de fazer valer.



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